segunda-feira, 17 de novembro de 2008

No ritmo tangolomango

Por
Beatriz Inojosa
Carolina Berger
Iasmine Pereira
Liliana Baroni
Mariana Moreira


A apresentação não é finalizada: há mudanças minutos antes e, na hora, improviso


Dililim, dililim, tum-tum, dililim, tum-tum, rosa, azul, ta-cabã, dililim, amarelo, tum-tum, ta-cabã, vermelho, verde, roxo, vermelho de novo. Sons e cores se unem e encaixam no Tangolomango – Festival da Diversidade Cultural. A palavra que dá nome ao evento é uma variação de tanglomango, que significa doença atribuída a feitiçaria; bruxedo, de acordo com o Dicionário Aurélio.

É na Fundição Progresso, na Lapa, que a integração de olhares e movimentos provenientes do Rio, São Paulo, Pernambuco e Santiago (Chile) acontece naturalmente, mas o primeiro passo vem dos organizadores do evento, que possibilitam o encontro e a realização do festival.

Após abertas as inscrições para a participação no evento, escolhem-se os grupos que irão compor o espetáculo. Marina Vieira, diretora do Tangolomango, conta com orgulho que a maior parte dos grupos que participa se inscreve para as edições seguintes. Porém, há preferência para grupos novos. “Preferimos dar oportunidade a outros grupos, pois o objetivo é que os que já participaram continuem esse trabalho em sua localidade”, explica Marina. A diretora conta que a integração que acontece no festival pode (e deve) ocorrer entre grupos de lugares próximos, mas esses, muitas vezes, não têm o hábito de trabalhar juntos. O Tangolomango vem promover essa idéia.

O roteiro da apresentação de domingo é construído pelos diretores João Carlos Artigos e Sidnei Cruz durante as oficinas que acontecem nos dois dias anteriores. O espetáculo se constrói entre pernas de pau, cores fortes e fantasias. Ao som de tambores, pandeiros e até pentes, as combinações se encaixam e os diretores vão no embalo do que acontece. O grupo de forró de Geraldo Júnior promove a coesão. João Carlos explica que não vai ao Tangolomango com idéias planejadas. A função dele é “colocar pilha” no que está acontecendo, sem se preocupar com exatidão, certo de que o resultado será bom. “O norteador do espetáculo é a generosidade intelectual”.

Sobre o Circo del Mundo, grupo circense chileno, Marina diz que a participação deles deve ser tão natural quanto a dos brasileiros devido à diversidade que constrói os países latinos. Mércia Britto, responsável pela curadoria dos grupos latino-americanos, conta que é a primeira vez que o Tangolomango recebe estrangeiros. O principal critério de seleção é que o grupo tenha a “essência de intercâmbio”. A partir daí, as barreiras idiomáticas são vencidas pela proposta da troca.

Os chilenos não são a única novidade do ano. É a primeira edição do evento que conta com um blog e uma mesa-redonda no dia seguinte ao da apresentação. O blog acompanha o ritmo da festa ao estar disponível para postagens e comentários, enquanto na mesa-redonda, participantes e organizadores contam suas impressões e fazem sugestões. Dois fatores que reforçam a idéia de reciprocidade.Aliás, esse é um elemento presente em todos os momentos do festival. João Carlos explica que o que permite tamanha troca é o fato de as pessoas estarem com "ouvidos e olhos atentos para receber mais do que dar". É o desapego que permite a integração. Usa-se um pouco da arte de cada grupo. Perde-se parte de sua performance para somar à do outro. "Nenhuma idéia é tão genial que não pode ser mudada." Isso tudo faz com que a apresentação se desenvolva a partir do "princípio da brincadeira". "O que importa é o momento presente, o ato de fazer. Aqui a gente não tem o sentimento de futuro que perturba as pessoas o tempo todo".

O Tangolomango é formado pelo presente, pelo o que se vê e pelo o que se sente, por experiências, passos, palavras e emoções. E por aquilo que não pretende terminar. Dililim, tum-tum...

Nenhum comentário: